Por Cláudio Cordovil
Passada uma semana da revelação de Xuxa no Fantástico (20/5) acerca de sua condição de vítima de abuso infantil, o caso assume nova inflexão, a meu ver preocupante, na mídia brasileira. Em sua edição mais recente (27/5), o referido programa apresentou depoimentos de pessoas comuns sobre supostos casos de agressão semelhantes por elas sofridos.
O tema está longe de ser incontroverso, tal como quer nos fazer crer a imprensa brasileira. Há que tratá-lo com competência e ética jornalísticas. Caso contrário, poderemos estar promovendo uma verdadeira epidemia psíquica nacional e destruindo injustamente famílias inteiras por acusações infundadas que poderão levar, futuramente, a erros judiciários clamorosos. Não se discute a realidade do fenômeno do abuso infantil, e nem suas chagas. Sobre isso, muito já se falou. No entanto, há que se matizar a gravidade do tema com achados de investigações jornalísticas já feitas nos EUA sobre “o mito das memórias reprimidas”, por exemplo.
Até o momento, não se observou nesta nova série de reportagens sobre assunto recorrente na mídia brasileira qualquer participação do Jornalismo Científico no trato da questão. Houve até jornalista científica premiadíssima que se manifestou sobre o assunto, mais para censurar os ataques verbais sofridos por Xuxa nas redes sociais do que propriamente para discutir o controverso tema da maleabilidade da memória em alegações de abuso sexual.
fonte: observatoriodaimprensa.com.br
[Cláudio Cordovil é jornalista científico e doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro]