O governo quer aprovar uma nova lei de imigração para garantir direitos para os estrangeiros e assim também poder exigir bom tratamento aos brasileiros no exterior, pelo princípio da reciprocidade. Além disso, o governo considera que o atual Estatuto do Estrangeiro, aprovado em 1980 sob a ditadura militar e a doutrina de segurança nacional, não é compatível com o Brasil democrático, que quer ganhar mais influência nos foros internacionais.
O projeto de uma nova lei de imigração foi enviado ao Congresso há quase três anos, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda não foi sequer discutido, disse nesta quarta no Rio o presidente do Conselho Nacional de Imigração (Cnig), Paulo Sérgio de Almeida, na abertura de um seminário sobre o tema, promovido pelos ministérios da Justiça, do Trabalho e das Relações Exteriores. "O eixo da nova política vão ser os direitos dos imigrantes", adiantou Almeida, funcionário do Ministério do Trabalho.
Rodrigo do Amaral Souza, diretor do Departamento de Imigração e Assuntos Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores, disse que o "governo brasileiro nutre a expectativa" de que com a nova lei os brasileiros também tenham os seus direitos assegurados em outros países. O diplomata explicou que o Brasil esperou quatro anos para adotar o princípio da reciprocidade com os espanhóis, restringindo só recentemente sua entrada no País, depois da primeira crise deflagrada em 2008 pelo aumento no número de brasileiros barrados na Espanha.
As restrições à entrada de espanhóis coincidem com o bom momento vivido pela economia brasileira, em contraste com a crise enfrentada pelos países da zona do euro, em especial a Espanha. Esse bom momento, combinado com o valor alto do real frente ao dólar - apesar das desvalorizações recentes - explica a decisão do governo americano de facilitar a concessão de vistos aos brasileiros. "Esse é um processo que poderá evoluir muito rapidamente para a abolição da exigência de vistos", prevê Amaral.
"O imigrante no Brasil, assim como o emigrante brasileiro, consomem produtos, pagam impostos e devem usufruir da prestação de serviços públicos", argumentou Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça. "Precisamos superar a ótica do estrangeiro como estranho, como inimigo, e tratá-lo como cidadão global que exerce o legítimo direito de migrar."