Rio de Janeiro – Ensinar moradoras de comunidades da Maré, na zona norte da capital fluminense, a preparar bolos, lasanhas e pizzas rendeu um prêmio. A organização não governamental Redes de Desenvolvimento da Maré está entre as vencedoras da quarta edição do Prêmio Objetivos do Milênio Brasil, organizado pelas Nações Unidas (ONU) e pela Presidência da República.
Capacitando mulheres desde 2010, o projeto Maré de Sabores incluiu, nas receitas, pitadas de cidadania. Entre uma aula e outra, as alunas de gastronomia receberam formação em direitos humanos e legislação brasileira. Aprenderam a reconhecer que são vítimas de violência em muitos casos, principalmente doméstica, mas que também podem mudar seus destinos.
Dentre as 100 alunas das primeiras turmas, algumas se organizaram e já recebem encomendas, a maioria da própria comunidade. Outras preferiram incrementar ou ter seus próprios negócios, assegurando também renda extra às famílias. Mas, fora das cozinhas, a perspectiva delas também mudou, segundo a diretora da Redes de Desenvolvimento da Maré, Eblin Farage.
Com a capacitação, Eblin destaca que as alunas conheceram a Lei Maria da Penha, de combate à violência doméstica, e foram incentivadas a participar de organizações locais para reivindicar melhorias na Maré e a se engajar mais na educação dos filhos, principalmente, por meio da reunião de pais. Muitas ainda voltaram para escola ou demonstraram interesse de ir para a faculdade.
"A nossa ideia é desnaturalizar um processo de precarização da ação pública nesse território, desnaturalizar uma escola ou um posto de saúde de baixa qualidade ou sem eficiência e mostrar que elas [as moradoras] têm direitos e que devem reivindicá-los", destacou Eblin. "Não é só gerar renda e entender de direitos, mas exercer a cidadania", completou a diretora.
O projeto Sabores da Maré é voltado para mulheres e atende atualmente a cerca de 60 alunas, em cursos divididos em módulos, duas vezes por semana, com duração de sete meses. Entre os módulos, há os de panificação e confeitaria, que podem ser feitos separadamente.
A prática está entre as 20 vencedoras do Prêmio ODM Brasil e é uma das três premiadas no Rio, dentre 1.638 inscritas em todo o país. No estado, também foram reconhecidos projetos do Movimento pela Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) e do Instituto Ciência Hoje. A cerimônia de premiação está prevista para maio, em Brasília.
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