É objeto de discussão recorrente em todos os veículos de comunicação o destino de nosso planeta. Não vou entrar em discussões filosóficas sobre as razões das nossas preocupações, se provem de cuidados com a manutenção da vida ou dos sonhos individuais e coletivos de eternidade.
Por José Roberto Castilho*
Pretendo, apenas, lembrar o bastante conhecido segundo princípio da Termodinâmica, que não pode ser revogado por se tratar de uma lei da natureza e que prevê o esgotamento das fontes de energia, que, dia-a-dia, torna-se mais rápido, movido pelo uso de recursos tecnológicos que proporcionam vida mais confortável.
Procurar e aprimorar as fontes de energia é trabalho científico e tecnológico, que requer investimento em estudo e em pesquisa, a ser realizado de maneira eficiente, porém restrito a especialistas. Cabe a nós, cidadãos conscientes, a tarefa de usar os recursos energéticos disponíveis da melhor maneira possível.
Isso parece simples, mas requer reflexão e conhecimento. De nada adianta, do ponto de vista do planeta, que alguém se locomova de bicicleta, economizando petróleo e evitando emissões de gases de efeito estufa se, ao chegar em casa, tomar um banho de meia hora, usando um chuveiro elétrico. O desperdício de água e energia, certamente supera os benefícios da ação anterior.
Uma preocupação atual da engenharia é a mudança de perfil do consumo de energia em todo o mundo. Uma das origens dessa mudança é o uso intenso dos eletrodomésticos, cada vez mais sofisticados e indispensáveis para a vida moderna. Apesar de todos os esforços dos fabricantes e órgãos reguladores em torná-los menos deletérios ao sistema de distribuição de energia, a multiplicação dos gastos pelo aumento da utilização é inevitável.
Na área industrial, então, nem se fala. A automação dos processos trouxe limpeza, eficiência e precisão, à custa do aumento considerável da implantação das ferramentas computacionais. O que houve, entretanto, foi uma simples troca de fontes de energia. É esse o ponto que quero discutir aqui.
Vivemos a era da informação e não nos damos conta de quanto isso custa para as fontes de energia do planeta. Informação não é algo que deve ser encarado, apenas, subjetivamente. Informação é, também, um ente físico e que pode ser quantificado. Ou alguém acha que a informação contida em um livro não requereu energia para o processamento das ideias no interior do cérebro do autor ?
Além disso, requereu energia de seus processos metabólicos para escrever ou digitar. Sem contar todas as outras formas de energia ligadas à impressão física, transporte e distribuição do volume disponível para a leitura.
Alguém irá dizer: mas agora os livros podem ser eletrônicos, sem gastos de impressão, transporte e distribuição. É verdade e, finalmente, depois de longa digressão, cheguei ao fato científico que, acredito, esteja faltando em grande parte das discussões sobre a energia no mundo moderno.
Em 1871, James Clerk Maxwell conjecturou sobre o conceito de informação, associado ao segundo princípio da Termodinâmica, apresentando um possível paradoxo que pode ser resumido na ideia: “Informação implica conservação de energia”. Esse paradoxo ficou conhecido como o “Demônio de Maxwell”, tendo sido objeto de vários trabalhos científicos na primeira metade do século XX.
O “Demônio de Maxwell” foi elucidado em 1949, por Claude V. Shannon e John von Neumann que enunciaram e demonstraram o seguinte fato: “qualquer ação computacional, natural ou artificial, dissipa uma energia “k T log2” por bit de informação gerado”. A expressão da mínima energia gasta (k T log2) interessa pouco nesta discussão, mas, a título de curiosidade, k é a chamada constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta.
Basta saber, entretanto, que o resultado é um número positivo que, embora pequeno individualmente, somado bilhões de milhões de vezes, torna-se considerável. Se a soma não for controlada, então, chegamos ao infinito dos matemáticos, isto é, um número maior do que o maior número que imaginarmos, representando um custo energético impossível de ser pago.
Onde quero chegar? No uso das ferramentas computacionais, hoje praticamente acessíveis a todos. Twittar, googlar e facebookar gasta energia, e muita. Democratizar e disseminar informação são ações decisivas para aprimorar a sociedade moderna, mas o gasto de energia é alto. É por isso que, cada vez mais, os físicos, biólogos, químicos e engenheiros andam atrás de soluções.
Para quem trabalha com isso todo dia, pensando e repensando soluções, chega a ser revoltante saber que alguém chega de um passeio de bicicleta, posta as fotos no Facebook e avisa pelo Twitter: vou tomar uma ducha longa e quente, depois eu volto para twittarmos contra a construção de Belo Monte e pela salvação do planeta.
*José Roberto Castilho Piqueira é Vice-Diretor da Poli-USP e Diretor Presidente da Sociedade Brasileira de Automática
Fonte: Jornal Da USP