Colunista, líder emigrante, rejeita a idéia de que o Estado brasileiro tenha de subvencionar emigrantes; deve só garantir seus direitos e o melhor para filho de emigrante é se integrar no país de acolha.
Durante a visita da presidenta Dilma ao presidente Obama, em Washington, um brasileiro emigrante perguntou se o governo brasileiro poderia arranjar algumas vagas no Brasil para filhos de brasileiros imigrantes ilegais que não podem fazer universidade nos EUA.
Em outras palavras, se Dilma poderia criar uma espécie de cotas para filhos de emigrantes. A presidente Dilma, que não é de conversa mole e nem de enganar, ao contrário é muito direta, respondeu ter 190 milhões de brasileiros para cuidar e que, ia ser muito sincera, são eles que têm a prioridade. E ajuntou que certas possbilidades existentes para os emigrantes nos States não estão ao alcance dos que vivem no Brasil.
Diante dessa resposta clara e incisiva que não deixa lugar para enganações, alguns emigrantes protestam no Facebook como se a presidenta tivesse abandonado os brasileiros do Exterior. A impressão é a de que esperavam da presidenta a criação do bolsa emigrante, justamente os emigrantes mais ferrenhos inimigos das bolsas família e escola.
É a volta que o mundo dá, de um lado criticam as cotas para negros e índios, mas depois bem que gostariam de ter uma cotinha para os emigrantes.
Diante disso, já que lideramos o movimento por uma Secretaria de Estado dos Emigrantes e somos membro do Conselho de emigrantes, temos de tomar uma posição. E aí vai:
A resposta da presidenta Dilma tem de ser entendida dentro do contexto de uma já existente política brasileira de emigração, criada pelo ex-presidente Lula, e que consiste num Conselho de emigrantes. Não se pode dizer que o atual governo não quer saber dos emigrantes. Discordamos do formato dessa política, mas ela existe.
Porém era de se esperar essa resposta, diante do fracasso do CRBE que não se afirmou diante do governo como órgão representativo dos emigrantes, mostrando-se mal preparado politicamente. Ao contrário, a maiorida das preocupações dos membros do CRBE são pessoais, numa verdadeira feira das vaidades, ou em favor dos donos do mercado religioso e comercial emigrante.
No caso da pergunta feita a Dilma em Washington, revela-se um tipo de reivindicação em conflito com a necessidade de integração dos emigrantes e seus filhos nos países de acolha. Tem-se a impressão de que, para muitos emigrantes, em lugar de haver integração, deve-se criar bolsões e guetos brasileiros, como se os brasileiros tivessem virado uma raça ou uma religião internacional.
Tais emigrantes se esquecem dos imigrantes que foram para o Brasil, no século passado, e nele se integraram totalmente com seus filhos, se dissolvendo na nossa população, chegando muitos a nem ensinar o seu idioma de origem aos seus filhos fossem italianos, espanhóis, japoneses ou alemães.
Por sua vez, essa resposta clara e objetiva da presidenta Dilma me parece também uma resposta às perguntas - haverá um outro CRBE, haverá uma IV Conferência ?
Para nós que reivindicamos politicamente, com base ideológica, um ponto de apoio em Brasília para defender os emigrantes junto aos demais ministérios, e que criticamos o atual formato do CRBE, não nos parece ter sido uma resposta negativa.
O que pedimos ao governo, de certa forma já existe, é a Secretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior, mas sem a tutela do Itamaraty, dirigida e integrada por emigrantes. A dotação orçamentária já existe, não haverá nenhuma despesa, apenas uma troca de direção e organograma. E isso iremos levar ao governo, no prosseguimento de nossa luta por uma verdadeira política de emigração, já que os emigrantes não podem ser ignorados.
E me sinto à vontade nisso, pelo fato de ter me empenhado na campanha pelos Brasileirinhos Apátridas, que nossa presidente ao responder uma pergunta sobre apoio a filhos de emigrantes nos EUA quis dar o recado de que uma política de emigração só pode levar em conta os emigrantes. Ou seja, já tendo de resolver o problema de 190 milhões no Brasil, não vai sobrar nem tempo e nem dinheiro para cuidar ainda dos filhos dos emigrantes, marmanjos por sinal. Mesmo porque isso envolveria em se intrometer na soberania de outros países.
Ora, embora eu continue minoritário nesta afirmação que faço agora, a principal preocupação dos emigrantes com seus filhos deve ser a da integração deles nos países onde vivem. A nacionalidade brasileira nata, pela qual lutamos e conquistamos, dá aos filhos da emigração brasileira a possibilidade de irem viver no Brasil quando quiserem, de ali trabalharem e terem bens quando quiserem. É uma enorme garantia para o futuro.
Porém, o Brasil não tem a obrigação de apoiar financeiramente cursos de língua brasileira ou bilingue no Exterior ou de providenciar a formação universitária dos filhos dos emigrantes no Brasil. Isso fica a critério de empresas ou entidades brasileiras religiosas ou laicas nisso interessadas.
Como dizem os franceses, não se pode ter a manteiga e também ficar com o dinheiro que era para comprar a manteiga.
E Dilma deixou claro, e nos EUA e na Europa isso é certo, que existem diversas boas oportunidades no Exterior ao alcance dos emigrantes e seus filhos, que não existem no Brasil e às quais os brasileiros não têm acesso.
Querer ter as vantagens do Brasil e gozar as vantagens e oportunidades existentes no Exterior seria acumular duas coisas e com isso ela não está de acordo.
E nem eu. Defendo as bolsas família e escola, defendo as cotas universitárias, mas acho sem cabimento a criação de cotas ou bolsas emigrantes.
Prosseguimos nossa luta política para ter em Brasília uma pequena representação emigrante junto ao governo, parlamentares emigrantes mas sem a tutela do Itamaraty, para lutarem pelos emigrantes, não por subvenções a filhos, netos e bisnetos dos emigrantes, senão vira aproveitamento e bagunça.
E acho que os brasileiros do Brasil seriam os primeiros a protestar, se Dilma criasse uma bolsa emigrante. Vamos devagar com o andor.
Presidenta Dilma se ausenta de ajudar imigrantes fora do Brasil