Um veterano que serviu com distinção o Exército e a Marinha dos Estados Unidos, no Iraque e em Guantánamo iniciou uma outra guerra. Desta vez contra o próprio país que defendeu colocando em risco a própria vida. Ele está detido há cerca de um mês e enfrenta um processo de deportação, pois além de mentir em sua aplicação ele se quer é cidadão estadunidense.
Eliseu Dawkins, 26 anos, é um imigrante oriundo das Bahamas e chegou aos EUA ainda criança. Segundo o seu advogado, ele sempre foi criado acreditando ser um cidadão. “Por que a sua legalidade neste país não foi discutida quando ele estava no campo de batalha defendendo os interesses do Governo deste país”, indaga.
Ainda não ficou claro os motivos que levaram a acusação e prisão do soldado, o qual havia recebido um passaporte dos EUA, enquanto servia a Marinha. O advogado relatou à juíza que cuida do caso, Cecília Altonaga, que as Forças Armadas acreditam que seu cliente é um cidadão norte-americano e Eliseu passou por um sistema de verificação quando foi convocado para servir em Guantánamo.
Eliseu tem todas as qualidades exigidas para se tornar elegível ao título de cidadão dos EUA, mas caso haja algum antecedente criminal, isso poderia prejudicá-lo. Caso ele seja condenado em relação à mentira na aplicação para servir as Forças Armadas, poderá ser excluída qualquer possibilidade de cidadania. O seu advogado espera que os promotores estudem o caso e afastem a possibilidade de condenação.
Em defesa do seu cliente, o advogado alega que o caso não deve ser visto como um crime e sim como um erro. “Não podemos criminalizar um herói de guerra por este equívoco”, acrescenta.
A Promotoria Pública Federal se recusou a falar sobre o assunto e se quer explicou o porquê de o Governo ter emitido um passaporte para Eliseu, em 2006, se ele já tinha carta de deportação datada de 1992, quando tinha oito anos de idade.
Também não foi divulgado como o soldado chegou aos Estados Unidos, mas o advogado afirma que possivelmente veio trazido pela sua mãe, que mais tarde foi deportada. Eliseu foi criado em Miami, na Flórida, por parentes que sempre lhe diziam que ele era um cidadão norte-americano.
Em 2003, depois que formou-se no segundo grau, Eliseu alistou-se no Exército, utilizando uma certidão de nascimento que havia sido emitida pelo estado da Flórida, marcada como “atrasada“. A porta-voz do Departamento de Saúde do estado, Jessica Hammond, explica que este tipo de documento é emitido com freqüência, pois muitas pessoas deixam para solicitá-lo bem depois do nascimento dos bebês. “Para isso checamos arquivos escolares, médicos, entre outros”, continua salientando que todos os documentos analisados pelos técnicos foram qualificados e por isso a certidão foi emitida. “Este tipo de liberação de documento está em vigor há mais de 50 anos”, conclui.
O Exército dos Estados Unidos exige duas formas para aceitar um candidato. Uma delas é a apresentação do Social Security e a outra a apresentação da certidão de nascimento. “Se você analisar a documentação que Eliseu tem, verá que não há nada de irregular e nada que prove que ele não é um cidadão dos EUA”, disse o porta-voz do Exército, Troy Rolan.
CONDECORADO
Eliseu foi dispensado dos serviços militares em 2008, depois de ter recebido uma medalha pela campanha feita na Guerra do Iraque, Guerra Contra o Terrorismo e Ação em Combate, entre outras honrarias.
Assim que foi dispensado, ele se alistou na Marinha utilizando um documento chamado DD214, emitido pelo Exército.
Quanto ao certificado emitido pela Marinha para ele servir em Guantánamo, a porta-voz Caroline Tetschner explica que “como o exército já havia dado o aval, não havia empecilho na liberação da autorização.
Em ambas as Forças Armadas, Eliseu serviu atuando como fotógrafo e recebeu brilhantes avaliações da Marinha e recebeu uma rápida promoção. Ele fazia fotos dos soldados que estão na linha de frente, tanto no Iraque quanto em Guantánamo.
Eliseu foi preso no mês passado, em Jacksonville, e está no Centro de Detenção Federal aguardando o andamento do processo.