Boston, 24 de março de 2010, por Paulo Monauer. A rede de pizzarias Upper Crust, de Massachusetts, está novamente envolvida em uma polêmica. Desta vez, ela é investigada pelo ICE (imigração), acusada de explorar trabalhadores indocumentados. Segundo matéria do The Boston Globe, vários ex-funcionários da rede disseram que a pizzaria dava moradia para os empregados indocumentados.
Ainda de acordo com eles, que preferem não se identificar, a investigação da imigração começou no início deste ano.Um dos ex-funcionários disse que o ICE quer saber como os empregados chegaram até os Estados Unidos, e se estão ganhando moradia da Upper Crust. A pizzaria teria um apartamento para alguns funcionários brasileiros, localizado perto da unidade em Hingham. Em um vídeo divulgado em dezembro último, o The Boston
Globe mostrou a relação da Upper Crust com a pequena Marilac (MG), de onde teriam saído mais de 80 homens.
Os imigrantes, que chegaram ao país através da fronteira com o México, tinham a promessa de um emprego na pizzaria, cuja renda vinha basicamente da mão de obra barata, distribuída entre os empregados da cozinha e os entregadores de pizza. Brasileiros que trabalharam na rede disseram que recebiam abaixo do salário correto, caracterizando assim que a Upper Crust tirava vantagem deles. Segundo eles, a pizzaria dependia dos nativos de Marilac, que recebiam salários abaixo do permitido, para expandir a rede para 18 restaurantes, nos últimos dez anos. A Upper Crust enfrenta ainda uma investigação do Departamento de Trabalho Americano. A rede de restaurantes teria ganho milhares de dólares nas costas dos funcionários. O dinheiro seria para pagar horas extras.
FATOS E DIFAMAÇÃO
O advogado da Upper Crust, David Berman, disse que a pizzaria não sabe da investigação da imigração. Chuck Jackson, advogado do ICE, não quis fazer comentários. A rede de restaurantes vai ainda enfrentar um boicote dentro de duas semanas. O protesto, coordenado pela coalizão trabalhista Massachusetts Jobs With Justice, será contra o mau tratamento dispensado aos funcionários da pizzaria.
“Queremos ajudar a educar o público, assim os usuários de restaurantes saberão o que está acontecendo, e os empregadores se darão conta de que existe uma consequência à exploração de trabalhadores”, disse Russ Davis, diretor executivo da coalizão.No mês passado, mais de 60 estudantes da Harvard, uma das mais conceituadas universidades do mundo, fizeram um boicote contra a rede Upper Crust. Claire Valentin, presidente do Harvard Immigration Project, disse que o grupo não tolera violação de direitos dos trabalhadores.
“Acreditamos que salários inadequados, negação de trabalho e de direitos empregatícios e exploração do trabalho imigrante prejudique as condições de trabalho de todos os trabalhadores imigrantes e americanos”, disse ela. Mas para o advogado Berman, boicotar a Upper Crust é um ato equivocado. Segundo ele, as alegações contra a rede são falsas e difamatórias.
Dois ex-gerentes, que preferem o anonimato por medo de não conseguir novo emprego, afirmam que foram forçados a dobrar o turno de trabalho, indo para 60 horas semanais. Mas segundo Berman, a Upper Crust não pediu para ninguém dobrar o turno. Ainda conforme o advogado, nenhuma das unidades da pizzaria cortou drasticamente a folha de pagamento.