O feriado de 7 de Setembro, mais importante data cívica do calendário brasileiro, serve também de pretexto, há quase 30 anos, para que a comunidade brasileira residente em Nova York se reúna para celebrar sua cidadania no evento conhecido como Brazilian Day. Mais de um milhão de pessoas vão para as cercanias da Rua 46, conhecida como a rua dos brasileiros em Nova York, para assistir a shows musicais e manifestações culturais numa gigantesca feira de rua.
A parte mais exuberante dessa comemoração, contudo, acontece um dia antes e estimula a curiosidade dos nova- iorquinos. Desde 2008, a lavagem da Rua 46 precede o evento principal. Trata-se de uma versão americana dacélebre lavagem da escadarias da igreja de Nosso Senhor do Bonfim, feita no dia 14 de janeiro de cada ano, em Salvador. Dezenas de pais e mães de santo desfilam pela rua, espalhando suas bênçãos, enquanto seus trajes típicos chamam a atenção de quem assiste a cerimônia. Os preparativos para a primeira lavagem da Rua 46 foram documentados no curta The cleansing of Bonfim - From Bahia to New York, do diretor Ivy Goulart, e o vídeo transformou-se numa poderosa ferramenta para divulgar o evento, que este ano acontece cercado de expectativas. - Cinema tem o poder de atingir as pessoas - observa Goulart. - Este curta não só continua repercutindo mas está ajudando a atrair mais público à festa.
O curta já recebeu quatro prêmios, inclusive a menção honrosa na sétima edição do Brazilian Cinefest Petrobras do ano passado, e serviu para divulgar o trabalho de Ivy Goulart fora do Brasil. O cineasta de 35 anos radicouse em Nova York em 2006, logo depois de formar-se em cinema pela universidade Gama Filho. Seu primeiro filmederosa ferramenta para divulgar o evento, que este ano acontece cercado de expectativas. - Cinema tem o poder de atingir as pessoas - observa Goulart. - Este curta não só continua repercutindo mas está ajudando a atrair mais público à festa. O curta já recebeu quatro prêmios, inclusive a menção honrosa na sétima edição do Brazilian Cinefest Petrobras do ano passado, e serviu para divulgar o trabalho de Ivy Goulart fora do Brasil. O cineasta de 35 anos radicouse em Nova York em 2006, logo depois de formar-se em cinema pela universidade Gama Filho. Seu primeiro filme Ouro negro, um projeto para a faculdade sobre um conhecido acidente numa mina de carvão em Santa Catarina, foi exibido no festival de Gramado em 2004. Ainda no ano passado, lançou seu primeiro longa, Além da luz, documentário sobre o universo dos deficientes visuais. O mesmo teve sua estreia na sede das Nações Unidas. O documentário inova ao fazer uso de uma moderna técnica de descrição visual-auditiva, diferente do voice ov e r , que permite a um cego presenciar o filme.
O impacto de Além da luz, aclamado por várias associações de cegos, rendeu convites para sua exibição em Paris e ate na China, no mês de novembro. Agora Ivy Goulart quer investir num projeto mais ambicioso: retomar o tema da Lavagem do Bonfim e produzir um filmes sobre as origens dessa cerimônia. - Curiosamente, o ano de 2008 foi tambem a primeira vez que o pároco do Bonfim abriu a janela da igreja para abençoar a multidão que se reunia nas escadarias - destaca o diretor, sobre a coincidência entre o reconhecimento cerimônia na Bahia e a oficialização do evento em Nova York. - Isto mostra que ela pode tornar-se popular no mundo todo.
Chegou a hora de se produzir o documentário que faca jus à sua história. O filme só deve ficar pronto ao fim do ano que vem, porque, ao começar a coletar material e entrevistas, Goulart percebeu que retratar as origens da festa implica numa profunda pesquisa histórica. - Para entender a cerimônia na Bahia é preciso ir às suas origens, o que me levou a Setúbal, em Portugal - conta o diretor. - Ao chegar lá, descobri que minha pesquisa não seria completa se também não for à República do Benin, na Àfrica. Ali encontra-se o berço do candomblé e é onde surgiram os nomes dos orixás como os conhecemos hoje. Para produzir seus filmes, Goulart conta só com seus próprios recursos, incorporando o espírito do cinema independente, ou autoral, como ele prefere definir. - Me sinto parte de uma geração posterior àquela que participou da retomada do cinema brasileiro nos anos 90 - comenta. - O avanço técnico das novas câmeras de HD, com qualidade quase igual ao 35mm, o uso de novos softwares de edição e até a internet como veículo de distribuição nos permite maior flexibilidade para produzir um filme com bom conteúdo. Não da para se considerar independente se você depende de algum edital para produzir. Apesar de documentário ser seu formato preferido no momento, Ivy Goulart espera produzir ficção em breve, desde que contribua para alimentar discussões socialmente relevantes.
- O espírito do cinema novo não morreu. Apesar de todos avanços políticos e econômicos que o Brasil experimenta agora, ainda há questões sociais que precisam ser abordadas - acredita o diretor. - O racismo ainda é uma realidade e a diferença entre as classes sociais é gritante.
Uma empregada doméstica de São Paulo precisa viajar quatro horas por dia para ir ao trabalho, enquanto seus patrões viajam quatro vezes por ano para a Europa.
Publicação: Jornal do Brasil (Brasil)
Autor: Jornal do Brasil Franz Valla DE NOVA YORK,
Assunto: Caderno B / ESPECIAL PARA O JORNAL DO BRASIL