Protesto de imigrantes pode deixar Nova York com fome
NOVA
Se todos os estrangeiros da cidade deixarem seus trabalhos na segunda-feira para participarem das manifestações em prol da imigração, muitos nova-iorquinos vão passar fome, ou pelo menos terão de reaprender a comer dentro de casa.
Anthony Bourdain, autor de "Kitchen Confidential" e executivo-chefe da Brasserie Les Halles, considera a mão-de-obra imigrante uma presença invisível nos restaurantes de Nova
"Acho que realmente há uma resistência em ter um sujeito de aspecto mestiço andando pelo salão de um restaurante francês", disse Bourdain, que tem um chef mexicano (naturalizado norte-americano)
"Toda vez que você lê a resenha de um restaurante dizem que `o chef tem mão boa para os temperos`. Se o nome do chef é amplamente conhecido, a maior probabilidade realmente é de que haja algum mexicano que tenha a mão boa para os temperos", disse Bourdain.
Sean Meade, subgerente do sofisticado restaurante-cooperativa Colors, mantido por imigrantes que tiveram colegas mortos no restaurante do topo do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, contou que os estrangeiros normalmente começam lavando pratos e depois ascendem a ajudante e cozinheiro.
"Eles fazem muitos trabalhos que os cidadãos norte-americanos não querem, porque acham que está abaixo deles, (os imigrantes) preenchem o vazio", disse Meade.
As manifestações de segunda-feira em todo o país são uma reação a um projeto aprovado na Câmara que torna crime imigrar ilegalmente e ajudar os clandestinos, além de prever a construção de uma cerca na fronteira EUA-México.
Embora muitos imigrantes trabalhem legalmente, um número significativo está clandestinamente no país, segundo gerentes entrevistados pela Reuters em vários restaurantes. A maioria pediu anonimato, para não atrair a fiscalização.
Em Inwood, no extremo norte de
"Essa gente se empenha, faz o que tiver de fazer, esfrega chão, lava pratos. Se eles forem embora, seria preciso pagar uma grana aos americanos, e logo depois, você já sabe, um hambúrguer custaria cinco dólares."
MAIORIA CHINESA A entidade Restaurante Opportunities Center, que promove os direitos dos trabalhadores do setor, diz que 70 por cento dos 165 mil empregados de restaurantes em Nova York são estrangeiros, e até 40 por cento são clandestinos.
Os chineses são maioria, sendo que também há muitos latino-americanos, árabes, africanos e afro-caribenhos, segundo Saru Jayaraman, diretor do centro.
O setor de serviços alimentares emprega 1,6 milhão de estrangeiros nos EUA, segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho.
Julee Resendez, que comanda o setor de bebidas da Colors, compara a experiência dos estrangeiros hoje nos EUA à de seus bisavós, que vieram do México para trabalhar em campos de algodão dos EUA.
"Os imigrantes são a espinha dorsal deste país. Eles fazem o trabalho sujo que outros não necessariamente querem fazer."
Bourdain disse que os imigrantes frequentemente se comprometem mais com o trabalho do que os norte-americanos.