Um historiador brasileiro, Fabio Koifman, revelou em um livro a ação heróica do diplomata, que salvou a vida de centenas de pessoas que tentavam abandonar França após a ocupação nazista.
Movido pelo que considerava um sentimento de misericórdia cristã, Souza Dantas deu vistos a centenas de pessoas que puderam fugir para o Brasil apesar de serem considerados indesejáveis do ponto de vista do serviço de imigração nacional.
Koifman explicou que eram judeus e pessoas que não se consideravam como tal mas, por terem ascendência judia, eram tidos como judeus pelo governo alemão.
Também havia homossexuais e cidadãos brasileiros que tinham lutado no exército republicano durante a guerra civil espanhola e estavam como foragidos na França, onde não podiam trabalhar nem abandonar o país já que, pelas leis brasileiras da época, tinham perdido a nacionalidade.
O número exato de pessoas ajudadas por Souza Dantas é desconhecido, mas pelos documentos que Koifman encontrou em uma pesquisa que durou três anos, foram pelo menos 500 pessoas.
O número poderia ser mais alta - há documentos que falam em mil pessoas -, já que muitos não chegaram ao Brasil e usaram os documentos apenas para abandonar a França, disse o pesquisador.
As ações ilegais do diplomata foram investigadas pelo governo brasileiro que, em dezembro de 1940, o proibiu de expedir mais vistos, função do cônsul e não do embaixador.
Apesar disso, Souza Dantas continuou ajudando os fugitivos com vistos com datas anteriores à proibição e, em algumas ocasiões, pediu aos cônsules do Brasil em Cádiz e em Casablanca para tramitar os vistos.
A conjuntura geopolítica, especialmente a ruptura de relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha, o Japão e a Itália, fez com que a investigação fosse arquivada.
O embaixador, que depois das denúncias de irregularidades não pôde mais trabalhar como diplomata, foi enviado, em janeiro de 1943, à Alemanha junto com o pessoal da embaixada, onde permaneceu até sua entrega ao Brasil em uma troca de brasileiros por alemães.
Na volta ao Brasil, em 1944, viveu no ostracismo mas, depois da queda do governo de Getulio Vargas, foi o primeiro brasileiro a dirigir a Assembléia Geral da ONU, em 1946, conta o historiador.
Entre as pessoas que fugiram com sua ajuda está o diretor de teatro polonês Zbigniew Ziembinski, considerado um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil, que chegou a Rio de Janeiro em 1941 e se referia a ele como um "Quixote", segundo o historiador.
O livro, que Koifman escreveu para sua tese de mestrado, se chama "Quixote nas trevas".
O Consulado do Brasil em Nova York decidiu dar a um de seus salões o nome do diplomata, cujo retrato será desvelado hoje em uma cerimônia da qual participará o cônsul Julio Gomes dos Santos e o criador da Fundação Internacional Raoul Wallengerg, que promove a homenagem.
A Fundação - uma organização não-governamental dedicada a promover a paz e a desenvolver projetos educativos baseados na solidariedade, no diálogo e no entendimento - entregará duas medalhas, uma para o consulado e outra para o historiador, que chegou a reunir 7.500 documentos para o trabalho.
Souza Dantas, que alguns chegaram a classificar como o equivalente brasileiro de Oskar Schindler, o industrial alemão cuja vida foi levada ao cinema e que foi reconhecido em junho do ano passado como um "Justo entre as Nações".
A honra é concedida pelo Museu do Holocausto, em Israel, a pessoas não judias que se arriscaram pelo bem de outras durante o holocausto.
fonte: Yahoo!Noticias